3.12.2007

Devo ter morrido

Um dia a felicidade coube toda dentro deste quarto pintado de branco e simples como a própria palidez.
Um dia houve tardes quentes de Verão e sorrisos debruçados sobre um azul encharcado de luz, e o sal fazia desenhos engraçados na pele e o vento sabia a liberdade.
Um dia os olhos brilharam num tom que ninguém nunca conheceu.
No tempo que acreditava, um abraço vencia todos os cansaços e um beijo roubava luz aos astros e nunca era noite. Havia fanfarras e arraiais e risos enfeitando as gentes felizes na simplicidade de uma fé sempre presente, na grandeza de tudo se resumir a isso mesmo. Tempos de palavras bonitas e de intimidades como se tudo fosse o cumprir da profecia e o universo conspirasse uma união há muito esperada.
Devo ter morrido no apogeu de mim.
Acordei e a felicidade cabe toda numas simples folhas de papel que o peso do tempo vai acumulando de pó e distância.

Paulo Sousa

8 comments:

Anonymous said...

Paulo, tou sem palavras, as tuas palavras sao de cortar a respiraçao. nao sei q dizer

Luís said...

Um dia voltará (esse dia).

Pralaya said...

Gostei imenso, identifiquei-me com o que escreves apenas notei que tens um erro de distração na 4 frase a contar do fim tens "Devo ter morrido mo apogeu de mim" e deverias querer escrever "Devo ter morrido No apogeu de mim"

Um abraço.

P-S said...

Já corrigi, obrigado pela nota. ;)

Anonymous said...

Vejo-me nas tuas palavras, na felicidade que coube no quarto pintado de branco e no olhar que nunca ninguém viu brilhar igual... E vejo-me na felicidade que já só existe nas folhas brancas que contam a história do que foi...

Anonymous said...

Tens a felicidade de ter guardado na memória como um tesouro a recordação de "Um dia", ou seja, de um tempo em que foste realmente feliz. Dizes com toda a razão que a felicidade está na simplicidade e hoje aproveito para perguntar-me: Porquê complicar sempre, quando a chave é simplificar?
( devia emigrar para o Tibete a ver se a convivência com os monges me desapertava o nó que todas estas conjecturas me dão no cérebro(LOL)).
Depois de tudo isto, só me resta dizer que como prosa poética, este texto está genial!
- Por favor, não publiques este comentário-

P-S said...

Linda, como nao publicar, se acho que tens toda a razao?! Os teus comentarios sao sempre construtivos e aliciantes. Mais uma vez obrigado pelas tuas palavras. beijo

André Cunha said...

Sei pelo que passas... Descobri as tuas folhas por intermédio de um amigo que também se perde nelas e permite-me a ousadia, és um escritor bestial, talvez porque consegues exteriorizar tão bem os teus sentimentos pondo-os em textos formidáveis.
Deixo-te um conselho, não te esqueças que a nossa capacidade para amar é infinita... Boa sorte, um dia alguém te vai preencher novamente...