9.07.2007

...como o vento...

Foste vento que passou agitando um grito contido no peito.
Dormia, ancorado a um sentimento de não estar por não ter para onde ir.
Dormia, e tu surgiste no sono profundo e mataste-me a sede.
Senti balançar o corpo, encharcaste-me de vida como se regressasse a mim num arranco supremo de ansiedade.
Chegaste quando pensei que já não vinhas e de repente o sonho era um mundo inteiro por descobrir, um gesto novo por aprender, uma tela em branco a colorir.
Olhei nos teus olhos profundamente e em silencio confessei-te o medo de sentir, e num olhar de água respondeste-me que era tempo de ficar.
Quis acordar e num gesto derradeiro para sentir o coração bater estendi a mão para te tocar e já não estavas, foste o vento que passou, o vento que não pára, que não fica, e eu sou apenas um soluço, um vulto arrancado à noite, preso algures por aí num pedaço de ar em movimento.

5 comments:

Anonymous said...

Lindo como sempre...
triste...triste...triste

Dalaila said...

O vento da mudança, que por vezes se torna brisa e não se sente, ou por vezes leva todas as folhas, todos os rostos, de dia e de noite.

Triste, mas muito sentido e lindo. Parabéns.

Raquel Branco (Putty Cat) said...

Deixaste-me com um soluço preso...

Sem palavras.
Muito, muito bom.

Beijo

André Cunha said...

Este esta bestial!
Abraço e força

Anonymous said...

Deixas me sempre surpreendentemente intimidado com esta magnifica escrita…