3.30.2007

Uma ultima noite

Sente este frio que a noite foi trazendo de mansinho.

Sente o corpo marcado por esta ausência que não mente.

Bebe este momento, que em mim tudo se engana e se rende.

Fica um pouco mais que este tempo é de desejo e luar

Ama-me, que o nosso tempo partiu quando foi tempo de ficar.

Dorme no meu peito, segura na minha a tua mão

Entrega ao silêncio o fulgor da hora que vai passando…

E deixa-me entregue ao que restou da solidão

Deixa-me sozinho que amar-te mais eu não podia

Acorda, solta-me os braços, desprende a madrugada...

É tempo de nascer um novo dia!...

Paulo

3.28.2007

hoje...

Hoje ao chegar a casa, parei o carro, rodei a chave e deixei-me ficar com as mãos no volante e o olhar perdido nem eu sei onde. Fiquei assim por algum tempo - para quê sair daqui? Para quê subir aqueles degraus e abrir a porta?
A casa está tão vazia e tão fria que parece desabitada. Estou cansado e não me apetece enfrentar este final de dia! Ninguém me espera para lá daquela porta, nenhum cumprimento, nenhum sorriso, nenhuma razão para entrar… deixo-me ficar aqui, assim... no rádio passa uma musica qualquer e eu sinto um abandono que me esmaga, que me afunda no banco do carro e não me apetece fingir, não me apetece sair…

3.18.2007

Inaptidão

Tanto que eu já disse, tanto já escrevi e as ideias continuam num sufoco acorrentado na garganta e no pensamento.
A realidade continua a antítese do sonho, inexpressivamente nas folhas que vou enchendo de palavras.
Pudesse eu ter a inspiração que dissesse verdade na tão humana e presente necessidade do desabafo.
Pudesse eu chorar este incontido desejo que sinto e que jamais poderei gritar onde me ouçam…

Paulo

3.12.2007

Devo ter morrido

Um dia a felicidade coube toda dentro deste quarto pintado de branco e simples como a própria palidez.
Um dia houve tardes quentes de Verão e sorrisos debruçados sobre um azul encharcado de luz, e o sal fazia desenhos engraçados na pele e o vento sabia a liberdade.
Um dia os olhos brilharam num tom que ninguém nunca conheceu.
No tempo que acreditava, um abraço vencia todos os cansaços e um beijo roubava luz aos astros e nunca era noite. Havia fanfarras e arraiais e risos enfeitando as gentes felizes na simplicidade de uma fé sempre presente, na grandeza de tudo se resumir a isso mesmo. Tempos de palavras bonitas e de intimidades como se tudo fosse o cumprir da profecia e o universo conspirasse uma união há muito esperada.
Devo ter morrido no apogeu de mim.
Acordei e a felicidade cabe toda numas simples folhas de papel que o peso do tempo vai acumulando de pó e distância.

Paulo Sousa

3.01.2007

Ser assim

É nesse horizonte que eu não me vejo que eu sou feliz. É nesse encontro que eu nunca tive que eu me sinto e que sei quem sou. É nesta imensa nostalgia que acho o conforto que conheço.
Salva-me a ilusão que há em cada incerteza e vou despertando os sonhos no passar das horas, no morrer dos dias.
É nunca estar quando a vida me pede que esteja, é não partir quando lá fora tudo chama por mim, é um querer leal e desmedidamente, é ir errando como quem avança sem poder ver o chão que trilha.
É ser essa rocha imensa, inerte e fria e chorar silenciosamente.
Ser gelo que não sente, que fere, que queima, e ter a brisa suave da primavera.
É ser a montanha altiva e distante, solitária e tosca e despertar fonte de vida na alvorada com o nascer do dia.
É querer ficar eternamente ouvindo o estalar quente da fogueira e ser gota de chuva procurando desesperadamente o mar.
É ser mais um, caminhando apressadamente pela rua. Ser todos esses,
e trazer sempre comigo a solidão a soluçar na verdade de um sorriso.

Paulo