9.12.2007

Depois de ti...


Depois de ti passaram muitas vidas!

Depois de ti romperam madrugadas detrás de outras janelas, encheram-se de verde muros outrora vestidos de cinza.
Depois de ti, houve confortos nascidos nos gestos repetidos de iludir a face que o espelho reflectia.
Depois de ti eu, sempre eu! Ainda cá estou e tantos dias que fugiram.
O velho caderno mudou de textos e de tinta. O Outono voltou a despir as árvores na rua que passa mesmo á tua porta, e eu parei para ver se ainda te via, mas meu amor, isso foi depois de ti, e a rua era só o vento que corria.


foto from olhares.com

9.08.2007

Dizeres I


A minha vida, sem ser boa nem má, é contada apenas no chiar do vento arrastando coisas pelas ruas, na ilusória alegria das voltas repetidas do carrossel, num bater de porta em porta e nunca pedir.

Chorar porque tudo me está “à flor da pele “. Porque um violino geme a minha condição numa peça fantasticamente triste.

Esperar…esperar…esperar sempre de olhos fixos num céu carregado de estrelas.

Sofrer a eterna condenação de ter a alma repleta de emoção e esbanjar ternura num dar de mim que não aprende a ser apenas gesto de retribuir um gesto, apenas.

Foto from olhares.com

9.07.2007

...como o vento...

Foste vento que passou agitando um grito contido no peito.
Dormia, ancorado a um sentimento de não estar por não ter para onde ir.
Dormia, e tu surgiste no sono profundo e mataste-me a sede.
Senti balançar o corpo, encharcaste-me de vida como se regressasse a mim num arranco supremo de ansiedade.
Chegaste quando pensei que já não vinhas e de repente o sonho era um mundo inteiro por descobrir, um gesto novo por aprender, uma tela em branco a colorir.
Olhei nos teus olhos profundamente e em silencio confessei-te o medo de sentir, e num olhar de água respondeste-me que era tempo de ficar.
Quis acordar e num gesto derradeiro para sentir o coração bater estendi a mão para te tocar e já não estavas, foste o vento que passou, o vento que não pára, que não fica, e eu sou apenas um soluço, um vulto arrancado à noite, preso algures por aí num pedaço de ar em movimento.