10.17.2007

Divagando

Não sei de nada. Não sei mesmo! Apenas que esta musica e este cigarro são o conforto neste quarto branco e frio.
Há dias em que me vejo sorrir, entre a memoria do beijo longo e a cumplicidade do abraço roubado ao tempo que nos roubavam. Tínhamos sempre tão pouco tempo, lembras-te?
Era sempre noite e a sensação de fuga fazia bater mais forte no peito o coração. E fugíamos nem sei de quê, íamos de fuga em fuga como se não pudéssemos parar.
Davas-me a mão para me dizer, sem as palavras que sempre preferias reter entre a garganta e o olhar atento à estrada, que tudo estava bem, que renascíamos bebendo estes momentos tão únicos, tão nossos ate a exaustão dos sentidos, como se o saciar dessa sede fosse o indicio de um desejo infinitamente insaciável.
Não sei de nada, não! Mas quero-te nestas divagações a que me dou quando a solidão fala mais alto, nesta ansiedade que vou disfarçando mais um dia até que possa, de novo, renascer em ti.

10.12.2007

Dizeres III


Recordo-me que o mundo era bom quando segurava a mão da minha mãe nas voltas da cidade. Quando adormecia junto ao seu peito, com a segurança do seu braço firme nas minhas costas, durante as lentas viagens de autocarro.

Cresci, tudo se complicou, e as vezes preciso tanto deitar-me nesse conforto que o tempo arrancou de mim.

10.05.2007

Dizeres II


Queria escrever-te, mas as palavras estão velhas e gastas, arquivadas, rebuscadas, como gavetas cheias de coisas fora de tempo e assombradas de memorias. Sei-as de cor e guardo-as para te sussurrar ao ouvido quando o amor deixar de queimar como acido na pele da alma. Guardo-as para nunca tas dizer.
Enquanto algures por aí, alguém escreve poemas de amor,
tu
Deitas-te de longe no silêncio do meu rosto adormecido,
e eu acordo em ti,
exposto, como o céu na superfície nua do mar.

10.01.2007

Poema


Queria um poema escrito por minguem e ninguém nunca o encontrasse, com cheiro a eucalipto e a mato.
Sonho com um poema sem rimas, pleno e absoluto, a saber a maresia e a vento.
Um poema que envergasse a lucidez do sol marcando o tempo, e a
força da chuva varrendo os tectos da cidade.
Queria muito mais profundo o oceano e muito mais longínquo o firmamento, trazer as mãos carregadas de estrelas e o coração pulsante como um vulcão em chamas.
Um poema feito essência…leve…com aroma de terra molhada pela manhã. Que te invadisse a alma e os sentidos, que te levasse a uma dimensão etérea, onde a melodia perfeita dessa musica que eu não sei, fosse palavras a renascer continuamente…
E nesse poema que não sei se existe, guardo tudo o que tenho para te dizer…
…aqui no outro lado de mim.
foto from ollhares.com