5.26.2006

Obrigado mana

Obrigado maninha, não sabes como foram importantes as tuas palavras! Precisava de ouvir todas as coisas que me disseste, não que não as soubesse, mas precisava de encara-las. As verdades doem todos sabemos, mas foi preciso abrir a ferida, expô-la para que, quem sabe o tempo a cure. Como podia estar tão cego?! Acho que quando se trata da nossa vida, da nossa felicidade, do que temos de mais sagrado, perdemos a capacidade de análise e só vemos o que na realidade queremos ver por mais falso que seja e/ou ridículo que possa parecer. Ate que um dia tudo se torna claro como água. Foi preciso tudo isso que tu sabes, tudo o que não te vou dizer porque o sabes como ninguém. Talvez não devesse, no entanto, ter atingido o fundo, o limite, mas fui até ao ponto onde não é possível descer mais, e a queda foi terrível. Tinha as esperanças e as ilusões, não me vou culpar por isso, sou só humano, foram estes sentimentos que me fizeram acordar e levantar muitos dias da minha vida.
Não me arrependo de nada, nem de sofrer, este sofrer faz parte de tudo o que ainda acredito, e não abdico das minhas convicções. Sempre fui assim, cheio de virtuosos defeitos que tu conheces.
Não acho que nestas coisas existam vencedores e vencidos, quem perdeu e quem ganhou, mas hoje sou muito mais humano e muito mais rico e sei que nunca perdi.
Consciencializaste-me.
Obrigado,
Adoro-te

Paulo Sousa

5.03.2006

Poema inacabado



Trago nas mãos a claridade e o descampado do deserto.
Na alma o negro do dia sem esperança. Como um mendigo vislumbra a manhã enquanto sacode os jornais.
Há um vazio que enche o espaço e transborda no tempo.
Há mais um bater de horas no passar dos dias.
Há um vendaval que nunca chegou e uma tempestade que se afasta a cada momento. Quero sentir a chuva no rosto e o vento balouçar-me o corpo.
Há um emaranhado de sonhos na tórrida realidade.
Há imagens de vida que tropeçam na verdade de ser quem sou e de esquecer todos os que fui. Sim porque os quis esquecer ao longo do caminho. Porquê?! Se ao menos me lembrasse de ter sido!
Vejo o cume da montanha. Daqui a paisagem, toda de cor e alegria, mostra-me cruel o caminho, que não tenho forças para seguir e as asas, essas, quebrei-as, uma, depois a outra…
Ficarei por aqui que já sangram os pés. E todos passaram por mim cantando na subida.
E este murmúrio vem de longe, trá-lo o vento e os bandos de aves que vêem do sul. Lá bem de longe, de onde nunca estive.
Esta verdade que nem consigo ouvir de tão murmurada que é.
Mas que importa se o silêncio traz o morno que conforta este vago pensar de romancista.
De longe virão os sentidos e os sentimentos.
De longe virá o rio encharcar de verde as margens secas.
Vou olhar, e de longe o teu nome escrever-se-á nas ondas e na imensidão do mar.
Que me importa se hoje há só um monte de folhas rabiscadas, no coração, só o rascunho de um poema inacabado?!
Paulo Sousa