1.18.2007

Perda

Pinto de luz a mesma aguarela, e é da mesma varanda que vejo o mar e respiro o mesmo vento, e os lábios entreabrem-se num sorriso cheio de vida, e sinto-me pequeno porque a beleza de tudo me esmaga e explode em mim.
E vou em frente, lidero o trilho, desbastando atalhos e veredas, cruzando caminhos, criando mapas.
Apaixono-me. Vivo, revivo, sinto intensamente, renasço, reinvento-me, sinto a beleza das manhas de Verão. Emociono-me e choro, e olho as estrelas e aqueço as noites num abraço imenso que é só dar.
Tornam-se audíveis sons que sempre ignorei. Alguém me salva os dias que vou moldando com ilusões como molda com suor o oleiro um pedaço rude de barro.
Mas tudo vai escurecendo como um entardecer, solitário e fatal. Canso-me de sonhar, outra vez, vencido pelo cansaço. Os dedos abrem-se lentamente, o tesouro que guardava é pó que o vento acaba de levar.
Quimérico e irreal, não está cá ninguém! Miserável. Chorar a partida de alguém que nunca esteve!
Pobre criança! Louco! Demente! Volto sempre ao lugar onde ninguém me segue, onde me largam a mão, onde o archote se apaga e perco o equilíbrio e já não sei para onde vou. Perdi-me. Perdi.
A minha alma é uma grande muralha, escura, fria, intemporal e é sempre na perda que eu me vejo, que eu me reconheço, que eu me contradigo!

Paulo Sousa

4 comments:

Zé Carlos said...

:D
Paulo, começa a ficar dificil dizer "este texto esta fantastico" sem me repetir cada vez que ca venho :D
Mais um belo texto. Abraço

Anonymous said...

Concordo que se torna muito dificil arranjar palavras para comentar os teus textos, mas este está especialmente magnifico, genial!

Bruno Pereira said...

Um texto excelente!

Parabens pelo blog

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Anonymous said...

Tu de facto escreves com um sentimento raro...com uma intensidade por vezes desconcertante!
parabens
walter (do tons)