Foste vento que passou agitando um grito contido no peito.
Dormia, ancorado a um sentimento de não estar por não ter para onde ir.
Dormia, e tu surgiste no sono profundo e mataste-me a sede.
Senti balançar o corpo, encharcaste-me de vida como se regressasse a mim num arranco supremo de ansiedade.
Chegaste quando pensei que já não vinhas e de repente o sonho era um mundo inteiro por descobrir, um gesto novo por aprender, uma tela em branco a colorir.
Olhei nos teus olhos profundamente e em silencio confessei-te o medo de sentir, e num olhar de água respondeste-me que era tempo de ficar.
Quis acordar e num gesto derradeiro para sentir o coração bater estendi a mão para te tocar e já não estavas, foste o vento que passou, o vento que não pára, que não fica, e eu sou apenas um soluço, um vulto arrancado à noite, preso algures por aí num pedaço de ar em movimento.
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5 comments:
Lindo como sempre...
triste...triste...triste
O vento da mudança, que por vezes se torna brisa e não se sente, ou por vezes leva todas as folhas, todos os rostos, de dia e de noite.
Triste, mas muito sentido e lindo. Parabéns.
Deixaste-me com um soluço preso...
Sem palavras.
Muito, muito bom.
Beijo
Este esta bestial!
Abraço e força
Deixas me sempre surpreendentemente intimidado com esta magnifica escrita…
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